Planejamento urbano das cidades: questão de sobrevivência
Artigos | 18 de outubro de 2018Quem viveu a década de 1970 e acompanhou a grande crise que tomou conta de Nova York sabe o período de recessão e caos que a cidade enfrentou. Em cinco anos, o município perdeu mais de 500 mil empregos formais, decretando praticamente falência, com congelamento de contingente de servidores públicos e polícia em mais de 20%.
O cenário fez com que, rapidamente, disparassem os índices de criminalidade em Nova York. Em 1977, um blackout de 72 horas ocasionado por uma greve da polícia coroou o sentimento de pânico que os cidadãos encontravam na cidade. Placas de “aluga-se” decoravam os imóveis; prostíbulos eram os estabelecimentos comerciais que vingavam; tráfico de drogas era o que se via nas esquinas; moradores de rua ocupavam as regiões centrais; desemprego e desesperança.
Diante de tal prognóstico, uma recuperação era desacreditada. Mas como uma das cidades mais dinâmicas do planeta conseguiu revigorar a qualidade de seus espaços públicos? A resposta está no planejamento urbano.
Depois de 1975, uma ferramenta regulatória conhecida como Uniform Land Use Review Procedure (ULURP) começou a ser implantada, que nada mais é do que o Procedimento Uniforme de Revisão do Uso da Terra. Foram ações do governo definidas por lei e que contaram com uma forte participação comunitária, com revisão de vários valores que outrora não seriam questionados.
Foi o início de uma retomada importante para que a cidade chegasse ao patamar urbano que vemos hoje. Claro que, aliado ao planejamento, Nova York foi favorecida por mudanças positivas na economia mundial e se fez valer de seus sistemas de transporte altamente desenvolvidos e a grande infraestrutura de telecomunicações, bem como sua grande população.
E, finalmente, na década de 1990, Nova York passou de uma metrópole em decadência para uma cidade global em plena revitalização. E como esse caso pode nos servir de exemplo?
Primeiramente, pelo fato de que é possível contornar situações caóticas quando se tem todos os pilares da sociedade envolvidos: poderes públicos, comunidade, indústrias, comércios, terceiro setor.
Segundo, pelo fato de que não existe crescimento ordenado sem planejamento urbano. Os colapsos das grandes cidades seriam praticamente evitados se houvesse um direcionamento para o desenvolvimento dos grandes centros. Nunca é tarde para começar a se planejar.
Juliano Abe, vice-prefeito de Mogi das Cruzes, é advogado pós-graduado em Direito Ambiental pela USP e consultor em meio ambiente com especialização em Gestão Ambiental e Sistemas de Gestão Integrada